Ladrões de carros roubam em SP número equivalente à produção diária da Volks no ABC

SÃO PAULO – Todos os dias em São Paulo são roubados e furtados, em média, 583 veículos, segundo números divulgados pela secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Isso significa que em apenas dois dias, os ladrões roubam um número de veículos quase equivalente à produção diária de uma montadora como a Volkswagen na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC, de onde saem 1.300 veículos diariamente. Se considerados os roubos e furtos registrados desde o início do ano, 105 mil unidades, os ladrões já levaram até agora a produção de 32 dias de uma montadora como a Fiat – a empresa produz 3.200 carros por dia no Brasil.
De acordo com balanço das estatísticas da criminalidade divulgado pela secretaria de Segurança de São Paulo, o último mês de julho registrou o maior número de roubos de carros do ano. Foram levados pelos bandidos 7.190 veículos, num mês de férias, em que teoricamente há menos carros circulando pela cidade. O número não leva em consideração os furtos. Ainda não se sabe se a elevação é uma tendência.

Mesmo com o crescimento da frota – circulam atualmente pelo estado de São Paulo mais de 22 milhões de veículos – esse tipo de crime vem caindo nos últimos anos no estado, segundo os números da SSP. Foram 214.948 roubos em 2001 contra 169.382 no ano passado. Mas os números ainda assustam.

– É um crime extremamente organizado, com olheiros, distribuidores, vendedores. O roubo de veículos não tem investigação policial. É assim no Brasil e no mundo inteiro. A polícia concentra as investigações em crimes violentos, como homicídios, estupros, latrocínios, ou crimes que precisam de resposta rápida para acalmar a população, como um assalto a shopping. A polícia não tem capacidade instalada para investigar o roubo de carros – diz o coronel da reserva da Polícia Militar, José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública e consultor de segurança.

O ex-secretário diz que uma parte dos veículos vai para países mais tolerantes a veículos irregulares, como Bolívia e Paraguai. Em junho, por exemplo, o presidente boliviano, Evo Morales, promulgou lei que legaliza os carros sem documento em circulação no país. Uma parte desses veículos é roubada no Brasil e levada para a Bolívia, geralmente caminhonetes de luxo. Lá, são trocados por cocaína. Um dos temores dessa legalização é que ela poderá estimular o roubo desse tipo de veículo e aumentar o tráfico de drogas.

– Existe até uma tabela de troca das caminhonetes por drogas. Uma boa caminhonete vale cerca de 10 quilos de cocaína – diz José Vicente Filho.

Especialistas de seguradoras de carros afirmam que a parte exportada de veículos roubados é a menor do total. A maioria fica mesmo no Brasil e ‘evapora’. Vai parar em desmanches ou circula com documentos falsos em outras cidades. Em alguns casos, os bandidos utilizam os veículos roubados em assaltos e depois os abandonam.

– A suspeita é que a maior parte dos carros roubados fique no Brasil e vá parar em desmanches, virando peça de reposição. Há casos em que a pessoa tem um documento e precisa de um carro. Então, o veículo é clonado e fica igual ao documento – diz Mauricio Galian, presidente da comissão de automóveis da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenaseg).

– A polícia descobriu, por exemplo, que a cidade de Monte-Mor, na região de Campinas, a 94 quilômetros de São Paulo, era um esconderijo de ladrões de carros. Foram achados lá 150 veículos roubados em Campinas – diz o especialista José Vicente.

Para Maurício Galian a fragilidade no controle e fiscalização de veículos e, até mesmo, a falta de punição rígida para quem compra peças de origem duvidosa mantêm o número de roubos alto.

– É como o filme pirata. A pessoa sabe que não deve comprar, mas há várias bancas que vendem CD e DVD piratas. O mesmo acontece com peças de carros em desmanches – diz Galian.

No Brasil, do total de carros furtados e roubados, 43% são recuperados, diz a Fenaseg. Na cidade de São Paulo, o índice de localização fica em torno de 35%. No interior, o percentual é maior: 40%.

Legalizar os desmanches de carro seria um primeiro passo para evitar o comércio clandestino de peças de automóveis, diz o especialista da Fenaseg.

– Poderia ser um caminho. O mundo inteiro produz muito carro e nem por isso se rouba tanto carro como se rouba no Brasil – afirma ele.

No início do ano, a presidente Dilma Rousseff (PT) vetou o Projeto de Lei 345/07, do Senado, que regulamentava o desmanche de veículos. A justificativa foi a falta de parâmetros técnicos mínimos para o comércio de peças usadas no mercado de reposição e a falta de garantia de controle da qualidade e das condições de comercialização. O projeto era de autoria do senador falecido Romeu Tuma.

Para José Vicente Filho, algumas medidas vão ajudar a melhorar a fiscalização. Em pouco tempo, os carros terão que sair com chips de identificação das montadoras. Teoricamente, poderão ser localizados em qualquer lugar em caso de roubo. Em São Paulo, a prefeitura vai colocar radares inteligentes que avisam quando o carro está irregular ou é roubado.

– Calcula-se que entre 1,5 milhão e 2 milhões de carros circulem ilegalmente no estado. Entre eles, estão aqueles que não pagaram o IPVA, multas, licenciamento e também os roubados. Só na cidade de São Paulo, são 7 milhões circulando. O trabalho de fiscalização é difícil – diz José Vicente Filho.

José Vicente diz também é preciso planejamento e interação entre a polícia rodoviária estadual, O Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) e as delegacias de cada bairro.

– Em São Paulo, por exemplo, há muitos roubos na Vila Madalena e Moema, bairros que concentram bares, ou ao redor de faculdades, de competência das delegacias locais. Mas para chegar aos grupos que negociam esses carros em outros estados é preciso da investigação do Deic e da ajuda da polícia rodoviária estadual – diz o especialista em segurança.

Fonte: O Globo

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