Imóveis blindados são estimulados pela violência

Em São Paulo, são os assaltos à mão armada que mais assustam. No Rio, o temor são as balas perdidas. Peculiaridades à parte, o fato é que a falta de segurança nas grandes cidades fez emergir uma nova e ainda incipiente indústria: a blindagem de imóveis.

Sem a concorrência de multinacionais – simplesmente porque trata-se de um problema exclusivo de países como Brasil e Colômbia – empresas nacionais de pequeno porte são atropeladas pelo excesso de demanda e duplicam e até triplicam de tamanho a cada ano. Certificadas pelo Exército, conseguem grandes contratos com o governo e, paralelamente, vendem guaritas, portas e janelas blindadas.

Antes um mercado restrito, exclusividade de consulados, bancos e casas de câmbio, a blindagem de imóveis, chamada de “arquitetônica”, começa a ser cada dia mais procurada por empresas e proprietários de casas de alto padrão. Segundo a Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), o mercado de blindagem arquitetônica cresceu 40% em 2008 e, em 2009, a expectativa é que tenha crescido outros 30%.

A blindagem de uma casa inteira fica em torno de R$ 700 mil. Um prédio comercial com fachada de vidros pode sair por cerca de R$ 6 milhões – mas, normalmente, apenas as faces voltadas para as favelas são protegidas. Nas residências, o mais usual é a blindagem interna – de um corredor de acesso aos principais cômodos e as células de segurança, conhecidas como “quarto do pânico”, popularizadas pelo filme homônimo, no qual a família se protege dos assaltantes em um cômodo especial. A Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem) estima que já existam cerca de 500 cômodos blindados.

Violentas, as cidades de São Paulo e do Rio são os principais mercados desse tipo de produto. Mas são muito diferentes um do outro. Enquanto em São Paulo a maior procura é pela blindagem de portas, de ” quartos do pânico” e de casas de alto padrão, em função do alto número de assaltos à mão armada, no Rio os focos são as janelas dos prédios residenciais e as fachadas dos edifícios comerciais – por conta das balas perdidas.

Em São Paulo, há 15 mil residências com portas blindadas. No Rio, são mais de 15 mil janelas protegidas contra tiros, segundo a Abrablin. “No Rio, a blindagem quase sempre é mais cara, porque precisa ser nível 3, contra tiros de fuzil”, explica Helon Catalani, gerente de vendas da EMS, especializada em blindagens arquitetônicas. Em São Paulo, a maioria das blindagens é nível 3A, que absorver o impacto de pistolas e revólveres.

A blindagem arquitetônica usa, basicamente, três tipos de materiais: concreto armado (feito com brita), aço e vidro. No caso das paredes, são usadas chapas de aço dentro da estrutura de alvenaria. “Na construção, é possível trabalhar com materiais mais pesados e com espessura maior, porque o peso não é problema, como na blindagem automobilística”, diz Carlos Monte Serrat Barbosa, diretor comercial da Blindaço, que atua no segmento arquitetônico. “Um vidro mais espesso pode custar até três vezes menos.”

Por conta disso, proporcionalmente, a blindagem de um imóvel sai mais barata – o preço do metro quadrado blindado varia de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil – que a de um automóvel, cujo preço médio é de R$ 50 mil. De qualquer forma, a estrutura do edifício precisa ser analisada para que a blindagem possa ser executada.

Como as casas de alto padrão – empresários, políticos e atores são os que mais procuram os serviços – estão se tornando um mercado importante, os arquitetos começam a se interessar pelo assunto e as empresas passaram a preocupar-se com a estética do produto. A Blindaço vai lançar perfis de alumínio blindados e a EMS trabalha em parceria com marceneiros indicados pelos clientes na confecção de portas blindadas.

As maiores do setor ainda são pequenas, mas trabalham com o aval do Exército – que certifica empresas e produtos – e crescem a ritmo espantoso. A Blindaço foi criada há apenas três anos. No ano passado, a empresa blindou a sede da Sul América Seguros, no Rio, que fica próxima a uma favela. “Faltava menos de cinco meses para terminar a obra e tivemos de fazer a adaptação do prédio praticamente pronto”, conta Barbosa. Por conta desse projeto, a empresa mudou de uma modesta fábrica de 500 m2 para uma de dois mil m2 e este ano planeja dobrar de tamanho.

A empresa venceu a licitação para blindar a sala do presidente e a sala de reunião dos ministros no Palácio do Planalto, os cofres do Banco Central de Curitiba e as bilheterias de trem da CPTM em São Paulo. Também aposta no varejo – está vendendo blindagem para janelas e paredes de apartamentos do Rio de Janeiro por R$ 1,5 mil o m2 em 10 vezes no cartão.

Com cinco anos de história, a EMS saiu de 35 para 70 funcionários do início ano passado para cá, também mudou de sede e está fazendo as bilheterias do metrô de São Paulo, além de 12 agências do banco BNB. “A demanda das residências cresceu demais”, diz Catalani.

Fonte:  Forum da Construção

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